Tendinite Calcificante do Ombro

O que é a Tendinite Calcificante do Ombro (Calcificações)?

Tendinite ou tendinopatia calcificante do ombro é uma inflamação dos tendões da coifa dos rotadores causada por deposição intratendinosa de cristais de fosfato de cálcio (calcificação). É uma importante causa de dor e disfunção do ombro que atinge geralmente uma população jovem em idade ativa e é mais comum em mulheres. As calcificações não estão associadas a trauma ou acidentes prévios.

Até 22% da população em geral apresenta calcificações nos tendões da coifa dos rotadores, mas, felizmente, na maioria das situações as calcificações são assintomáticas. O tendão do supraespinhoso é o mais afetado e a probabilidade de haver uma calcificação contralateral concomitante é de 14%.

Quais as causas da Tendinite Calcificante do Ombro?

O mecanismo patogénico que origina as calcificações dos tendões da coifa dos rotadores ainda não é bem compreendido, mas está relacionado com alterações degenerativas dos tendões e metaplasia das suas células que passam a produzir e a depositar depósitos de cálcio no próprio tendão.

Existe uma associação entre a tendinite calcificante e outras doenças como:

  • Diabetes
  • Hipertensão
  • Doença Cardíaca Isquémica
  • Disfunção tiroideia
  • Doenças endócrinas
  • Parece haver também uma predisposição genética e familiar
  • Um estilo de vida sedentário aumenta igualmente o risco desta patologia

Sinais e sintomas da Tendinite Calcificante do Ombro

A formação dos depósitos de cálcio é geralmente um processo lento ao longo de vários meses, podendo ocasionar dor ligeira ou apenas um pequeno desconforto. Contudo, a dor pode surgir de forma mais súbita e intensa correspondendo ao período em que ocorre a reabsorção das calcificações. A dor é muitas vezes descrita como irradiada para o cotovelo e para o pescoço. 

De acordo com a história natural da doença podemos dividir a apresentação da tendinite calcificante em 2 grandes grupos – Apresentação aguda: a dor é mais intensa e muitas vezes associada a diminuição da mobilidade do ombro. Tem um período de duração entre 2 e 3 semanas, ou em alguns casos até um pouco mais longo. É geralmente muito incapacitante, sendo bastante comum afetar o sono. Apresentação crónica: a dor não é tão intensa como nos casos agudos e pode haver períodos em que os doentes estão assintomáticos. Contudo, os sintomas podem arrastar-se por vários meses.

De forma menos frequente, a tendinite calcificante pode apresentar-se como um ombro congelado ou capsulite adesiva – Capsulite adesiva: geralmente a dor não é tão intensa mas há clara perda de mobilidade do ombro que exigirá longos períodos de reabilitação

Diagnóstico Tendinite Calcificante do Ombro

Radiografia

Muitas vezes suficiente para o diagnóstico de tendinite calcificante uma vez que a calcificação é radiopaca sendo visível na radiografia.

Ecografia

Permite observar microcalcificações que muitas vezes não são visíveis em radiografia. A resolução do ecógrafo é superior à ressonância magnética para identificar calcificações. Para além disso, é um exame dinâmico que permite observar a existência de conflito subacromial.

Ressonância Magnética

É um bom estudo complementar que para além de permitir o diagnóstico das calcificações, permite avaliar e diagnosticar outras lesões do ombro como roturas da coifa dos rotadores, lesões do labrum e/ou lesões da longa porção do bicípite entre outras.

Tratamento Tendinite Calcificante do Ombro

Conservador

Quando realizar? É o primeiro método de tratamento pois, na maioria dos casos, a dor e outros sintomas são autolimitados e a história natural da doença mostra-nos que em geral a dor melhora com o tempo sem necessidade de intervenções agressivas. O tratamento deve ser realizado por fases, sempre do mais simples para o mais complexo e sempre integrado num plano individualizado para cada doente.

Opções de tratamento?

  • Medicação e Repouso: na fase de dor mais intensa é primordial tratar a dor. Nesse sentido é fundamental o uso de anti-inflamatórios não esteróides e de outros analgésicos orais. Nos casos em que não seja suficiente o controle da dor com medicação oral poderá ser considerado o uso de corticosteróides, sobretudo em doentes em que esta doença esteja a perturbar consideravelmente o sono. O repouso é essencial numa primeira fase para a diminuição da dor, mas deve ser autolimitado no tempo. O ombro é a articulação mais móvel do corpo humano e, por isso, à medida que os sintomas melhoram é essencial iniciar a mobilização do ombro para assim evitar a rigidez e atrofia muscular.
  • Fisioterapia e Reabilitação: um programa de reabilitação física pode ser essencial na recuperação desta patologia, principalmente nos casos em que a apresentação clínica é mais prolongada no tempo. Nestes casos é comum observar-se alteração do normal movimento do ombro ou diminuição da mobilidade do ombro associada a alterações da posição e normal cinética da omoplata que podem condicionar conflito subacromial e perpetuar a dor. Exercícios de mobilidade e de melhoria da cinética da omoplata permitem ao ombro recuperar a sua homeostasia após estes períodos de doença ativa.
  • Infiltração do Ombro com corticóides: pode ser necessário nos doentes com dor aguda e intensa associada a incapacidade de dormir, quando a medicação oral não é suficiente para o controle da dor. É um procedimento invasivo cujo objetivo é diminuir a dor e não curar a doença.
  • Infiltração do Ombro com PRPs: Os PRPs ou plasma rico em plaquetas são fatores de crescimento que podem ajudar na cicatrização do processo inflamatório e na regeneração do tendão degenerado. Este técnica consiste em utilizar o plasma e as plaquetas do próprio doente, que são previamente extraídas e seguidamente passam por um processo de centrifugação para preparar estes fatores de crescimento para depois serem infiltrados no local lesionado. Este procedimento é realizado em regime de ambulatório e o doente tem alta logo a seguir à infiltração, se clinicamente estável.
  • Ondas de choque: procedimento não invasivo que permite, à semelhança do que já é realizado no tratamento de cálculos renais, fragmentar os depósitos de cálcio e ajudar o organismo na sua reabsorção. Em geral são necessárias várias sessões (mínimo 3) separadas por 1 semana cada para a diminuição dos sintomas. Este procedimento não deve ser realizado de forma isolada, mas sim integrado num plano individualizado para cada doente.
  • Barbotage: procedimento minimamente invasivo, guiado por ecografia que permite localizar, fragmentar e realizar a aspiração da calcificação por agulha.

Cirúrgico

  • Quando realizar? Principalmente no doentes crónicos sem resposta ao tratamento conservador

  • Técnica Exérese da calcificação por via artroscópica: procedimento minimamente invasivo (incisões < 0,5 cm) que permite observar toda a articulação do ombro e realizar a drenagem, aspiração da calcificação e limpeza dos tecidos inflamatórios do ombro

Pós-operatório

  • O braço não é imobilizado
  • Retirar pontos às 2 semanas
  • Reabilitação fisiátrica por um período de 4 a 6 meses

 

Como prevenir a Tendinite Calcificante do Ombro?

Estilo de vida saudável com prática regular de exercício físico é a única forma conhecida que poderá ajudar na prevenção desta doença, pois permite a manutenção do equilíbrio e estabilidade do ombro.

Quando procurar Especialista Ortopedista?

  • Dor que necessite de medicação analgésica mais de 3 dias seguidos
  • Dor por mais de uma semana, sem necessidade de medicação
  • Dor associada a perda de mobilidade
  • Dor noturna que prejudique o sono
  • Se existiu trauma prévio
  • Dor intensa

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